Sindicato dos Trabalhadores e das trabalhadoras em Educação de Pernambuco

Trabalhadores de todo o Brasil se reúnem por justiça social na educação

Da CNTE,

O presidente da CNTE, Heleno Araújo, apontou na quinta-feira (18), durante o primeiro dia de reunião do Conselho Nacional de Entidades (CNE) da CNTE, em Brasília (DF), uma série de projetos, financiados por iniciativas privadas, que têm aumentado a precarização da docência pública na América Latina e no Caribe. 

Empenhadas na plataformização cada vez maior da educação básica pública, o uso de aplicativos na administração das disciplinas já tem causado prejuízos para educadores em estados, como o Paraná. Outro motivo de preocupação relatado pelo dirigente diz respeito à forma de contratação que está sendo feita para projetos que buscam a conectividade para todas as escolas, e como eles serão pagos pelo governo federal.

“Os presidentes dos bancos (financiadores desses projetos) colocam como política dessas iniciativas a superação das desigualdades digitais, a redução de lacunas de acesso, inclusive na educação, e isso nos coloca em dificuldade para fazer o enfrentamento, afinal, quem não vai achar importante incluir esse acesso digital pelo caminho?”, mencionou Heleno. 

Foto: Geovana Albuquerque

“O próprio Banco Mundial já referenciou no seu relatório que os sindicatos são tidos como obstáculos para a consolidação desses projetos… A teoria é sempre de bastante diálogo, mas na hora de executar a política, o caminho acaba sendo outro”, completou.

Heleno ainda alertou sobre plataformas de ensino online que não possuem professores na administração do seu conteúdo, mas sim instrutores. 

“Um exemplo disso é uma plataforma de jogos e aprendizagens em matemática, já colocada em ação, para uso de professor e estudantes, e quando você acessa o programa existe uma aba descrita ‘acesse as aulas prontas’. Você só precisa acessar as aulas, ler o conteúdo, aprendendo com a ajuda da tecnologia, sem a ajuda de um profissional mediando o processo”, descreveu.

Foto: Geovana Albuquerque

“Não podemos descolar esses programas da situação atual que vivemos. 54% dos professores e professoras do Brasil são contratados temporariamente. Além disso, temos dificuldades para que concursos públicos sejam realizados, e muitos governadores e prefeitos, quando estamos nas mesas de negociação, chegam a dizer na nossa cara: ‘Para que vou fazer concurso público, e ter um profissional por mais de 30 anos, se eu não vou precisar dele?’

Foto: Geovana Albuquerque

“Isso que trouxemos aqui é para podermos refletir o processo em andamento que leva ou tenta levar a extinção da nossa categoria profissional. É importante percebermos que isso não acontece de imediato, e para o governo, é muito mais fácil demitir os contratos temporários”, completou Heleno. 

Professores vigiados 

No estado do Paraná, a presidenta da APP Sindicato, Walkíria Olegário, falou sobre o uso da tecnologia por parte do governo para vigiar, controlar e punir o cumprimento ou não cumprimento de metas Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

De acordo com ela, os aplicativos Escola Paraná, de uso dos estudantes e seus responsáveis, e Escola Paraná Professor, para uso do docente, adotados na educação pública do estado, ao mesmo tempo que facilitam o acesso, têm refletido na dispensa dos trabalhadores/as da área técnica de secretaria escolar. 

“O ano inteiro de aulas já está programado na plataforma. A prática de planejar a aula, algo básico, não tem mais. Elas já chegam todas prontas, com slides e atividades, pois estão dentro do programa de conteúdo ideológico que a secretaria de educação tem”, lamentou. 

“O registro online é o que hoje controla a vida dos profissionais da educação paranaenses. Quando entramos em sala, precisamos logo fazer o registro online. Nas secretarias e regionais de educação, existem mais pessoas para controlar os dados do que para produzir conteúdo ou dar apoio pedagógico. Chegamos ao ponto de, em qualquer escola, se chegarmos e não fizermos a chamada logo na primeira aula, alguém da regional de ensino irá ligar para a pedagoga da unidade de ensino para informar que o professor não registrou a chamada e questionar como anda a frequência dos alunos”, relatou.

Segundo reforçou Walkiria, não existe mais a preocupação com a aprendizagem. O que passa a importar é o quantitativo de acessos na plataforma, que se tornarão números para a propaganda.

Defesa do PNE do Congresso

Pela tarde, a programação contou com a análise preliminar do assessor Jurídico da CNTE, Eduardo Ferreira, sobre o projeto de lei 2614/2024, do  Plano Nacional de Educação (PNE). Durante a exposição, Eduardo abordou aspectos sobre a conjuntura do PNE vigente e os desafios que precisam ser superados pela nova política enviada ao Congresso Nacional. 

Com base nas preocupações, carências e omissões presentes no PL, como as parcerias público-privadas e a necessidade de efetivação da valorização dos trabalhadores da educação, o assessor anunciou a construção de uma proposta de emenda ao projeto feita pela CNTE. Uma vez que a proposta seja apresentada aos parlamentares federais, Eduardo reforçou a importância do engajamento e mobilização dos trabalhadores na defesa do projeto. 

“É muito importante que a categoria e a comunidade escolar de todo o Brasil, nos estados e municípios, discutam o PNE, não só nas escolas, mas também nos parlamentos locais, juntamente com o Congresso Nacional”, finalizou.

Foto: Geovana Albuquerque

“As nossas entidades filiadas terão que fazer um trabalho lá nos seus estados, com os parlamentares locais também. Não podemos fazer pressão somente aqui com os deputados federais e senadores”, reiterou a secretária Geral, Fátima Silva. 

Ela ainda chamou a atenção para que a atuação reforce a necessidade do novo PNE para avançar e atualizar as políticas voltadas para a educação.

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