Sou professor. Por que preciso usar as novas tecnologias?
“Estou no século 21 e é lógico que preciso de novas tecnologias”. Esta é certamente a resposta mais óbvia para o título deste artigo, no entanto ainda sou levado a pensar que há algo mais, pois a tecnologia por si só não é o foco da educação. Computadores, tablets, smartphones estão em toda parte e já são realidade em nossas escolas. Mas quem está usufruindo dessa tecnologia? Quais são os alunos que a utilizam?
Quais são os professores que estão aptos a introduzir tal ferramenta em sala de aula? Como utilizá-la? Para que utilizá-la? E mais, dispomos de fato dessas ferramentas? Possuímos salas de informática com equipamentos que funcionem e sejam compatíveis com o quantitativo de alunos nas salas?
Questionamentos como estes são frequentes entre os professores que estão cada vez mais sendo orientados (ou desorientados?) a utilizar as novas tecnologias que sempre chegam primeiro às mãos dos alunos. Nesse panorama podemos citar algumas situações que atormentam grande parcela dos educadores brasileiros.
Que tal mencionarmos programas de Secretarias de Educação que dizem conectar professores ao mundo virtual, mas nunca ofereceram acesso a internet? Ou ainda pensarmos nos educadores com uma trajetória de mais de 20 anos dedicados à educação e que hoje são chamados de ultrapassados e ridicularizados por não terem habilidades com a informática? Seria muito oferecer uma capacitação a estes profissionais? Será tão oneroso? Ou simplesmente não há interesse?
A questão é muito mais séria do que um simples processo de troca de “quadro negro” por “quadro branco” ou de giz por lápis ou ainda do quadro por uma lousa digital. O problema passa pela leitura que fazemos (ou deveríamos fazer) das condições em que se encontra a educação em nosso país.
Escutamos frequentemente que o “foco do professor é o aluno”, mas esquecem que o professor tem saúde para tratar, família para cuidar e compromissos financeiros diversos que, infelizmente nem sempre são cumpridos, pois a dignidade salarial parece não fazer parte das políticas educacionais que regem a carreira desses profissionais de primeira grandeza. A educação é a sustentação de um país sério, é o instrumento que eleva a condição cidadã do ser humano e o prepara para a vida.
O professor tem perdido a motivação da carreira docente, sua auto-estima tem sido afetada e isso é alarmante. Nunca se frequentou tantos consultórios de psicologia e psiquiatria por conta das condições desfavoráveis as quais esse profissional é submetido. Isso é um dado preocupante e que precisa de uma atenção especial e talvez, quem sabe, de um minuto de silêncio…
Há alguns dias ouvi um prestigiado palestrante afirmando que não temos mais que esperar da parte de alunos pesquisas manuscritas ou digitadas, mas formas diversas de apresentação através de ferramentas tecnológicas que substituirão os textos escritos. Chego a pensar se isto é de fato um ganho para a formação cidadã de nossos estudantes.
Pareço-me delongar e arrodear por um tema já desgastado e certamente enfado quem até aqui acompanhou este desabafo, mas ainda faço um convite para mais uma reflexão.
Enumeremos então, a partir de agora as exigências para o professor diante das novas tecnologias:
· Criatividade;
· Domínio da informática;
· Acesso diário a internet;
· Habilidade com diversos softwares;
· Domínio na edição de vídeos produzidos pelos alunos;
· Participação em sites de relacionamento;
· Construção de hipertextos;
· Domínio da WEB 2.0.
Por outro lado elenco algumas exigências feitas aos alunos por parte das instituições de ensino que promovem anualmente seus vestibulares em nosso país, incluindo o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM:
· Domínio da norma culta da Língua portuguesa;
· Bom nível de leitura e escrita de uma língua estrangeira;
· Compreensão dos gêneros textuais;
· Raciocínio lógico;
· Conhecimento de inúmeras fórmulas para cálculos de matemática, física, química e biologia.
O exposto acima aponta para uma realidade preocupante, pois é preciso entender que a tecnologia por si só não garante aulas melhores nem alunos mais preparados. Distribuir equipamentos sem pensar de fato na formação do professor é simplesmente ir de encontro à correnteza, deixando a aprendizagem à deriva.
É necessária uma política de adequação entre o que é exigido nos exames de acesso às universidades e demais instituições de ensino superior e o que de fato se propõe a ensinar nas escolas. Dessa forma ficará claro que o educador deverá participar de um projeto pedagógico que envolva as novas tecnologias, mas que o deixe ciente de seu papel e seguro na utilização de novos instrumentos pedagógicos que o auxiliarão na prática docente.
Não pretendo vendar meus olhos para esta realidade tecnológica. Defendo o uso das novas tecnologias, mas defendo muito mais a auto-estima do professor e a elucidação a que deve ser submetido para a utilização das mesmas.
Acredito piamente que todo o professor deseja melhoria em suas aulas, almeja a atenção e motivação dos estudantes, compreende a necessidade do uso das novas tecnologias, mas precisa antes de tudo se sentir parte do processo de mudança e fazer da sua prática algo continuamente prazeroso que preze pela educação de seu alunado e que o coloque numa posição de destaque, possibilitando a seus educandos segurança no ambiente escolar e adimiração pelo seu mestre. Dessa forma a realidade será vivida de modo coerente corroborando para elevar a auto-estima do educador que infelizmente tem caminhado cabisbaixo.
Pensem nisso.
Sérgio Marcelo Salvino Bezerra
Professor da Rede estadual e particular de Ensino do Estado de Pernambuco