Sindicato dos Trabalhadores e das trabalhadoras em Educação de Pernambuco

Sou professor. Por que estou pensando em um plano de fuga?

Sou professor. Por que estou pensando em um plano de fuga?
Um plano de aula, sim, um plano de aula é comum e integra o cotidiano de um professor. Mas o que dizer de um plano de fuga? Fugir de quê ou de quem? Quais os efetivos motivos para uma fuga?
Esses questionamentos eclodiram a partir da percepção de que muitos professores estão planejando não mais dar aulas e tentando esquivar-se de suas atividades diárias por não se sentirem mais atraídos e realizados com sua profissão. Tais considerações podem parecer injustas, mas também me pego pensando na suposta fuga. A ideia talvez tenha se tornado razoável, plausível. Ou não o é?
Consideremos os questionamentos iniciais: fugir de quê ou de quem? A fuga que aqui nos envolve e de certo modo também nos atrai, é no mínimo antagônica. Como explicar um sujeito que estudou bastante, escolheu sua profissão, buscou dar o melhor de si durante seu curso universitário, matriculou-se em especialização na área de maior interesse, fez seu mestrado em educação, continua estudando e simplesmente não que mais dar aulas? De que modo conceber a ideia de que a sala de aula, que deveria ser o palco de nossas atividades laborais tornou-se um grande tormento de parcela significativa de professores e professoras?

Essas indagações parecem-nos absurdas, mas que tal pensarmos sobre um congresso de Educação, porém um congresso que ocorrerá durante as férias escolares. Não. Deixemos o congresso de lado. Pensemos em um encontro de Educação durante três dias, no entanto dias letivos. A questão é: qual dos eventos mencionados o professor dará prioridade para sua participação? A resposta não precisa ser expressa.

Direcionemos agora para outra situação. Um professor precisa marcar algumas consultas médicas. Não há urgências, mas há uma necessidade legítima, pois o ser humano deve cuidar continuamente de sua saúde. O aspecto em discussão é: esse professor agendará suas consultas para um período de férias, recesso escolar ou priorizará um dia letivo?

O ponto é muito mais sério que este elementar conjunto de palavras. Os exemplos anteriores apenas objetivam conduzir-nos a uma reflexão sobre a realidade da área de educação e da triste lida de nossos professores.
Recentemente ouvi um colega afirmar: “Eu detesto essa história de educador. Eu não sou educador.” O que há de oculto nesta frase? Estaríamos em desacordo com este professor ou esta também já é a nossa bandeira? Ou um professor não é um educador?

Amigo leitor, as inquietações são inúmeras e tem atormentado esses profissionais que estão planejando fuga. A fuga da falta de reconhecimento, a fuga da precária infraestrutura das escolas, a fuga dos baixos salários, a fuga da ausência de um plano de cargos e carreiras sério e atrativo, a fuga das salas de aula superlotadas e sem o mínimo conforto térmico, a fuga do desrespeito ao profissional que dedicou anos de estudos e que agora se vê sem um piso firme (que piso?) e sem estímulo à carreira que tanto almejou, a fuga da “educação” que se instalou em nosso país.

O plano de fuga já não é irreal, não é invenção de quem não ama a profissão de Mestre. O plano de fuga aqui tratado não faz mais parte do imaginário, mas é uma triste realidade vivida em cada canto do nosso país. Chegamos ao ponto de não querer mais entrar em sala de aula. Uma conversa com um colega, uma reunião com pais, uma participação em assembleia ou greve, parece-nos muito mais atraente que dar aulas.

O colega que até aqui vos escreve sente um lamentável pesar pelo tema manifesto. Poderia neste instante está desenvolvendo um planejamento de aula, estudando uma estratégia para um encontro com estudantes, selecionando um vídeo ou um filme para debate entre alunos… Não, não estou em nenhuma dessas atividades. Estou agora pensando em mais um plano… Um plano de fuga.

Pensem nisso.

Sérgio Marcelo Salvino Bezerra

Professor da rede estadual e particular de Ensino do Estado de Pernambuco.
Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco, Especialista em Gestão Ambiental (Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE) e Psicopedagogia (Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP/ CEPAI).

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