O Sintepe participou nesta quarta-feira (9), do primeiro dia do seminário para discutir o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – o Fundeb permanente – promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) em Brasília (DF). O encontro conta com a participação de trabalhadores/as da educação, conselheiros/as do Fundeb e sindicalistas de todas as regiões do país.
O presidente do CNTE, Heleno Araújo, ressaltou a necessidade de retomar o diálogo com as bases, com a ajuda de estados e municípios, para identificar as demandas educacionais das regiões. Ele também reforçou a posição do CNTE de lutar para estar presente na transição do governo Lula, ao lado de Fernando Haddad, para poder compor as negociações importantes para a categoria.
A vice-presidente da Confederação, Marlei Fernandes de Carvalho, resumiu o que chamou de sentimento geral de alívio com a eleição do presidente Lula. “Aquele peso que sai das nossas costas nos coloca nesses momentos de reorganização para olharmos nossas perspectivas e reconstruirmos a escola pública tão necessária à classe trabalhadora”, disse.
Formação continuada
O seminário tem o objetivo de, além de discutir as questões atuais e urgentes e esclarecer dúvidas sobre o novo Fundeb, se estender na construção de um grupo de estudos contínuo para o próximo ano a fim de dominar a nova ferramenta e poder fazer o controle social da arrecadação e repasse junto à base. Esse intento, junto com a necessidade de empoderamento dos profissionais de educação, foi ressaltado pela secretária de assuntos educacionais da CNTE, Guelda Andrade.
A mesa de abertura discutiu o financiamento da educação pública no Brasil, em um resgate histórico feito pelo professor João Monlevade, doutor pela Unicamp e assessor aposentado no Senado Federal, uma das referências no assunto do financiamento da educação no Brasil.
Fotos: Augusto Dauster/CNTE
O professor falou sobre o atraso na educação brasileira, desde o Brasil Colônia, e sobre como essa educação era restrita aos homens brancos e à elite. Por isso e por todos os desafios de subfinanciamento enfrentados pelo setor, ter uma educação obrigatória garantida pela Constituição Federal de 1988 é, para o professor, uma conquista de toda a sociedade brasileira.
“Fomos um país de analfabetos até 1549. A primeira escola era ligada à Igreja Católica. Podemos classificar a evolução da escola brasileira em elitista, destinada somente a uma parte da população – mulheres não foram para a escola por 400 anos; a educação foi abrindo e hoje temos uma escola praticamente, na sua estrutura, igual os países mais desenvolvidos do mundo”, ressaltou.
Após traçar o panorama histórico que levou à construção do Fundeb, o professor encerrou sua fala com um questionamento sobre o poder de arrecadação atual para manter um ensino de qualidade em nosso País. Ele defende uma mudança no sistema tributário para excluir renúncias fiscais e gerar mais receita para investimento em políticas públicas.
Nessa mesma linha, foi construído o debate da segunda mesa, encabeçado pelo advogado e economista Eduardo Ferreira, que também é assessor da CNTE. Eduardo falou sobre a parte estrutural do novo Fundeb, ou seja, sobre os impostos que compõem a arrecadação que forma o fundo.
Fotos: Augusto Dauster/CNTE
Ferreira também defende uma mudança no sistema tributário brasileiro, que é regressiva e onera mais a população mais pobre do Brasil, incidindo principalmente sobre bens de consumo. Ele também chamou atenção para o fato de a diminuição dos empregos com carteira assinada no Brasil impactarem negativamente no Salário Educação, que financia obras nas escolas, a merenda escolar e projetos e ações voltados para a educação básica.
Segundo Eduardo, essas mudanças, como a implementação do imposto sobre grandes fortunas ou a aprovação do PL 2337/2021 – que prevê a taxação de lucros e dividendos de pessoas físicas e jurídicas -, deixaria o sistema mais justo com as classes mais pobres da população e contribuiriam com aumento da receita para financiar o Fundeb, por exemplo.
Eduardo entende que preservar a vinculação constitucional é a tarefa primordial de quem discute educação pública hoje no Brasil. Ele citou o exemplo do enxugamento de recursos das Universidades Públicas após a Emenda Constitucional 95, o chamado Teto de Gastos.
Após o fim de cada mesa, houve tempo para esclarecimento de dúvidas dos profissionais de educação relativas à composição do Fundo e fiscalização. O seminário continua na próxima quinta-feira (10) com oficinas voltadas à melhor compreensão sobre a composição de receitas do Fundeb e também sobre instrumentos de controle social e relação com parlamento, tribunais de contas, Ministério Público e Poder Judiciário.