Por uma formação decente
O avanço econômico do Brasil e de Pernambuco em especial, tem trazido à tona nos últimos anos uma palavra que ficou esquecida durante décadas: “formação” e que precisa ser bem refletida, pois, as que se referem empresários e os governos restringem-se apenas à preparação do/a trabalhador/a para ocupar postos de serviços em uma concepção que diminui o ser humano a uma pequena peça e deve ser útil para servir simplesmente a uma grande engrenagem que subentende uma concepção de sociedade e de mundo de explorados e exploradores.
Na percepção dos trabalhadores e trabalhadoras a dimensão da formação não se restringe apenas à formação para o trabalho, para fazê-lo em si mesmo, como ato repetitivo e sem uma significação maior, mas uma dimensão que envolve a formação política/sindical e com suas repercussões sociais.
Para tal, não podemos perder de vista o papel que deve exercer o sindicato como bem explicita a Constituição Federal de 1988 no seu Art. 8° inciso III onde a este “cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”; portanto, a compreensão desse sentimento de pertencimento a uma categoria deve permear toda a luta sindical dos trabalhadores e trabalhadoras por objetivos comuns de valorização profissional e a garantia de um trabalho decente.
Tomando como ponto de partida o sentido da pólis da Grécia antiga a formação deve buscar e desenvolver o ser político que participa das decisões da sua comunidade, cidade e que possa se perceber que ele mesmo é o Estado e que sua atuação diária e ativa é fundamental nas resoluções da vida pública.
Paulo Freire na obra Educação e mudança nos esclarece que a condição primordial para se comprometer é ter a capacidade de agir e refletir, é se perceber no mundo enquanto homem. Portanto, é preciso ter uma reflexão sobre si, sobre o seu mundo, associada a sua ação sobre ele. É a essa percepção social que a formação deve conduzir o individuo: a se ver como cidadão gerador de riquezas e bem estar social.
Dessa forma, os desafios postos para a formação não são poucos nem fáceis diante da conjuntura que se apresenta tanto no estado, como no país. Para isso, construir uma política nacional de formação consistente e que traga respostas aos anseios dos/as trabalhadores/as são os objetivos tanto da Central Única dos Trabalhadores (CUT) quanto da Confederação Nacional dos Trabalhadores (CNTE). Não perdendo de vista as suas concepções metodológicas; (atuando no entendimento da consciência de classe); democrática (com estímulo constante ao debate entre as diferentes correntes, existentes no seio do movimento sindical cutista); plural; com liberdade e autonomia sindical. Não é possível pensar em democracia sem opção dos/as trabalhadores/as pela escolha da forma de se organizar segundo os seus interesses de concepção, de classe de ideologia e prática social.
Na atualidade a CUT mantém cinco programas nacionais de caráter formativo político sindical, ou seja:
1 – Organização e Representação Sindical de Base – ORSB;
2 – Negociação e Contratação Coletiva – NCC;
3 – Desenvolvimento, Políticas Públicas e Ação Regional – DPPAR;
4 – Política e Sindicalismo Internacionais – PSI;
5 – Formação de Formadores/as – FF.
Esses programas têm como elemento norteador a superação das relações capitalistas de produção, haja vista esse raciocínio ser a base que possibilitará a emancipação da classe trabalhadora tanto no meio urbano quanto rural. Essa formação CUTista compreende a dimensão da educação formal e informal. Nessa perspectiva as ações da CUT convergem para uma intervenção que se bifurcam em dois espaços significativos de disputa, ou seja: um espaço de disputa que envolve as relações entre o capital e o trabalho e outro envolvendo o estado e sociedade, embora reconheçamos que não ocorre necessariamente uma desvinculação entre eles.
O programa de formação da CNTE posto em prática desde 2007 pela sua secretaria de formação e das suas afiliadas, possui duração de três anos e tem como objetivo qualificar, recompor e aumentar os quadros sindicais em todo o país. Este programa está organizado em quatro eixos:
Eixo 1 – Concepção Política e Sindical;
Eixo 2 – Formação de Dirigentes Sindicais;
Eixo 3 – Planejamento e Administração Sindical;
Eixo 4 – Temas Transversais.
Os eixos são compostos de uma série de cadernos e sugestões de vídeos que servirão de suporte para seminários e oficinas a serem desenvolvidas. Cada caderno ou fascículo é trabalhado durante dois dias durante os seminários. Exemplo: o eixo 1 é composto pelos fascículos:
1º Fascículo – Introdução à Sociologia
2º Fascículo – Teoria Política
3º Fascículo – Economia Política
4º Fascículo – Movimento Sindical e Popular Histórico
5º Fascículo – Movimento Sindical na Educação no Brasil.
O eixo 2 possui cinco fascículos, já o eixo 3 contém quatro fascículos e o eixo 4, como são temas transversais, tem como objetivo “instrumentalizar dirigentes e militantes dos sindicatos filiados à CNTE nos debates das questões enfrentadas pela categoria em atividades permanentes com temas específicos, sendo os mesmos publicados de acordo com as necessidades prementes ou conjunturais e de curto prazo da mobilização da categoria”.
Pelas características apresentadas nas formações empreendidas tanto pela CUT como pela CNTE, observamos a garantia de uma formação continuada com uma rede de formadores distribuída em todo o país e um material didático de conteúdo atualizado e contextualizado com os desafios postos para a atuação sindical qualificada, onde no processo iremos edificar a alma sindical dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.
Edeildo de Araujo
Diretor de Formação do SINTEPE e Formador da CUT.