8 de março. Parabéns a todas às mulheres.
Ao dar seus primeiros passos, a humanidade era dividida em grupos, dentro dos quais, as funções eram determinadas pela capacidade física: homem caçava, mulher coletava frutos e cuidava das crianças. Com o tempo, em algumas tribos, havia a valorização da capacidade de procriação da mulher, afinal era necessária a perpetuação da espécie. Porém, passaram a considerar que essa capacidade a fizesse mais “delicada, mais frágil”. Era o início da ideologia machista.
Passou-se a educar as crianças com uma cultura de inferioridade intelectual para as mulheres. No desenrolar dos avanços e descobertas a superioridade física foi sendo transferida para a vida em sociedade. Surgiu a questão de gênero: características sociais, culturais, políticas, psicológicas, jurídicas e, principalmente, econômicas foram atribuídas às pessoas de forma diferenciada, de acordo com o sexo. Cabendo às mulheres condições inferiores. O que era apenas uma diferença física passou a ser motivo de opressão e subjugação.
Com a chegada do capitalismo, essas mazelas se aprofundaram. A exploração justificava e determinava a opressão. A mulher passou a sofrer vários tipos de violências: humilhação e falta de segurança em casa ou na rua, medo do homem com quem vive, ser ameaçada por não querer ter relações sexuais, ser proibida de estudar, trabalhar, ter amigas(os), ter voz e vontade própria. Passou a sofrer repressão sexual, ser desprezada ou ironizada, sofrer agressão ou lesão corporal.
Os homens passaram a ser vistos como provedores e assim dominadores. Eles poderiam tomar as decisões e as mulheres teriam que obedecê-los e serví-los. Elas, no entanto, sempre trabalharam. A maioria das vezes em duplas ou triplas jornadas. Mas ficavam à margem. Nos bastidores, seu papel sempre foi primordial, porém era camuflado, ofuscado pela “superioridade” dos homens. Eles sempre precisaram da figura feminina, não só para serem gerados, mas para todos os passos evolutivos, apesar de sua realização depender da exclusão das mulheres das esferas do poder.
Alguns dizem:“Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”. Parece um elogio… PARECE!!! Na realidade, não passa de uma justificativa para a permanência da ideologia machista. Mesmo sendo a maioria da espécie humana, apesar de tantas lutas e tantos enfrentamentos, a mulher continua sendo vítima de opressão em casa e no trabalho. E quando pensamos na mulher que é negra e trabalhadora?!
A mulher negra chegou ao Brasil como escrava. Arrancada de sua família, separada de seus filhos, estuprada pelos seus senhores, humilhada, torturada e até mutilada por suas sinhás. Não ficou passiva diante desta realidade, usou as armas que dispunha. Até abortos cometeu na tentativa de proteger sua prole. Lutou, transgrediu, teimou.
Quantas Dandaras, Lélias, Alziras, Luizas, Margaridas, Anitas, Chiquinhas, Berthas, Zicas, Ivones, Beneditas, Dilmas, Olgas, pegaram em armas ou usaram seu poder intelectual para perseguirem o ideal de liberdade, denunciar as injustiças, se organizar na mobilização pela igualdade de gênero e étnico-racial?!
As mulheres, anônimas ou não (desde os quilombos, até hoje, como empregadas domésticas, professoras, sem-terras, boias-frias, ambulantes, artistas, escritoras, jornalistas…), utilizaram sua força e garra na construção deste país. Foram heroínas no sustento dos filhos, atuando no cotidiano contaram suas histórias, através da arte divulgaram suas idéias, nos rituais, como lideranças religiosas, ensinaram seus valores e suas crenças.
Hoje, como resultado de muita mobilização, temos várias conquistas: votar e ser votada, grande participação nos movimentos sindicais, modernos contraceptivos, delegacia especializada de atendimento à mulher, Lei Maria da Penha, entre outras. Mas ainda é pouco. Precisamos continuar na luta por soberania alimentar, reforma agrária, pelo combate à “indústria de beleza e da magreza”, contra a violência contra à mulher, por participação e poder. Que a cor da pele não seja entrave ao acesso ao mercado de trabalho, que a “boa aparência” não seja álibi para o preconceito e a discriminação, que as cotas raciais e de gênero não precisem existir.
A voz das mulheres não pode ser calada. Precisamos de solidariedade para a promoção da igualdade e da verdadeira democracia. Não bastam leis no papel, são necessárias a efetivação das políticas públicas conquistadas e outras mais que possibilitem a difusão das ideias de não-discriminação, de tolerância e de respeito entre os seres humanos. Conscientizar que somos multiculturais é o caminho. Não é a quantidade de melanina na pele, nem o tipo físico que faz alguém melhor ou pior do que outro. Muito menos o sexo biológico. Precisamos unir forças para lutar contra as discriminações raciais, sociais e sexuais, onde quer que se manifestem, para alcançarmos a igualdade e a justiça. Assim seremos realmente um povo FELIZ!!!