Educação dos amanhãs: tesão ou morte!
Constatações recentes desafiam uma pernambucanidade que me foi outorgada e que muito me honra. A primeira, na Coletânea Poética do Sintepe, uma reflexão do professor Ésio Rafael:
“Algo terá de ser feito dentro da rede estrutural de educação no país. Não há mais tempo a perder, e antes que o leite derrame temos que mexer nessa teia onde o ‘Homem Aranha’ está por um fio. Os conceitos básicos à evocação de velhos mitos não têm alimentado o hoje, nem as perspectivas do amanhã. As mudanças terão que vir à tona porque a necessidade é o recurso mais importante e imperativo do momento”.
A segunda foi colhida no noticiário sobre o ensino superior nos EEUU. As estatísticas merecem análise: 22% dos graduados 2010 obtiveram empregos que não exigem diploma superior; 57% dos americanos consideram que o seu ensino superior não vale os gastos dispendidos; 33% dos que ingressam nas universidades abandonam o curso no primeiro ano; e 50% dos estudantes dos cursos superiores jamais se formarão. Segundo Andrea Murta, de Washington, “cada vez mais gente questiona se vale a pena investir na qualificação acadêmica”.
A terceira constatação provém de Peter Thief, um dos investidores do Facebook. Ele lançará, no segundo semestre deste ano, bolsas de cem mil dólares para autores de projetos de inovação tecnológica. Com uma condição: os contemplados terão de abandonar os seus cursos superiores por, pelo menos, dois anos!
Uma quarta constatação é datada dos anos setenta do século passado e foi extraída de um livro famoso, Sociedade sem Escolas, Vozes 1988, de Ivan Illich, co-fundador do controvertido CIDOC, Cuernavaca, México: “Não podemos iniciar uma reforma educacional sem antes compreender que nem a aprendizagem individual e nem a igualdade social podem ser incrementadas pelo rito escolar”.
Os atuais níveis educacionais pernambucanos, com as mínimas exceções, estão mais voltados para a reprodução de receitas do que para formulação de estratégias.
Para a maioria dos dirigentes educacionais não são por demais preocupantes os amanhãs educacionais do estado, desapercebidos que estão da advertência de Ludwig Wittgenstein: “Quando se está atolado na lama, só há uma coisa a fazer: caminhar. É melhor cair morto de exaustão do que morrer se lamentando”.
Deixaria registrado, para os militantes educacionais, os versos de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), contidos num texto de Heleno Araújo Filho, atual presidente do SINTEPE. Versos que muito bem balizam o que seria um caminhar docente de missão cumprida, a partir de um digno piso salarial:
“Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas, Quanto mais personalidade eu tiver, Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver, Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas, Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento, estiver, sentir, viver, for, Mais possuirei a existência total do universo, Mais completo serei pelo espaço inteiro fora”.
Fernando Antônio Gonçalves
Professor da UPE e UFPE
(Publicado na revista Algo Mais – 20/07/2011)