Autor: José Bartolomeu dos Santos Júnior
A Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco originalmente, antes da chegada dos europeus, era habitada por diversas comunidades indígenas, que depois de 1500 foram vítimas de epistemicídios decorrentes dos processos impositivos da colonização e da colonialidade ainda presente em nossos espaços. Através de significativos dinamismos de resiliência e ressignificações, as tradições culturais dos indígenas e das pessoas africanas de diferentes nações que foram vítimas da escravidão, neste território, tiveram de se recriar, camuflar, e novas percepções foram e são (re)significadas, (re)inventadas.
Nossos municípios e suas comunidades nasceram desse “Entre-Lugar” Cultural (Homi K. Bhabha, 2013 – O Local da Cultura), dos Hibridismos Culturais (Peter Burke, 2006 – Hibridismo Cultural), e congregam um conjunto de práticas, saberes, e vivências do Nordeste, do Brasil, do Sul-Sul (Boaventura de Sousa Santos, 2021 – O Fim do Império Cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul). Malunguinho segue vivo, guerreando na história e no sagrado, do século XIX, em atos de deificação, configura vertentes de Mestre, Caboclo e Exu em rituais religiosos afro-pernambucanos nos cultos de Jurema que ultrapassaram limites, divisas e fronteiras.
Podemos ainda constatar a presença afro-indígena nas mais variadas situações do cotidiano: quando pronunciamos o nome de uma das nossas cidades, como por exemplo Itambé, Itaquitinga, Timbaúba ou Goiana; está nos chás das ervas e plantas curativas, nos lambedores, nos banhos, nas garrafadas, na alimentação, nas rezadeiras e religiosidades populares do Padre Cícero, de São Severino do Ramo (Engenho Ramos, Paudalho), ou ainda de Chaninha (Engenho Miranda, Goiana/Condado), nos Maracatus de Baque Solto e Baque Virado, nas Pretinhas do Congo, nos grupos de Capoeira e suas Capoeiragens, nos Caboclinhos e Tribos de Índios, na Ciranda, no Coco de Roda, na Aruenda, nas musicalidades do frevo, enfim, na reverberação social do nosso povo e suas particularidades.
Nossas escolas e todos e todos que a fazem devem continuar fomentando e estabelecendo estratégias que diminuam os prejuízos causados pelo Racismo Estrutural (Silvio Almeida, 2018 – O que é Racismo Estrutural?). Temos que ouvir e debater os pertencimentos dos nossos estudantes no tocante as suas histórias, memórias, grupos e realidades. Conscientizando e se tornando consciente, não apenas no mês ou especificamente no dia 20 de novembro, mas, todos os meses. A missão da decolonialidade dos saberes está em nossas mãos. Não vamos desvalorizar ou renegar o que já foi feito, mas, podemos reconfigurar e visibilizar outras vertentes, outras narrativas, que possam incluir ao invés de excluir, valorizar ao invés de marginalizar, respeitar ao invés de condenar; empatia e tolerância são estruturantes nessa desconstrução e longa reconstrução de quem somos para o que seremos e desejamos ser: melhores seres humanos! Enquanto professor da rede, indicamos aos nossos companheiros e companheiras nosso livro “Africanidades Brasileiras na Sala de Aula: identidades e (re)conhecimentos” (Editora CRV, 2022) fruto da nossa pesquisa do Mestrado em Educação, Linha de Educação Popular, no PPGE da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), defendida em fevereiro de 2019. Sigamos na luta por uma rede educacional livre, pluralista e humanitária!
*Professor da Escola Estadual Coronel José Pinto de Abreu em Goiana-PE; Doutorando em Ciências das Religiões pelo PPGCR-UFPB; Sócio Efetivo do Instituto Histórico Arqueológico e Geográfico de Goiana (IHAGGO) e da Academia de Artes e Letras de Goiana (AALGO).