Desabafo de uma professora desencantada
No último dia 06 de março, repeti o que faço todas as manhãs: consultar o site do Sintepe para me inteirar das novidades. Navegando pelo site, li um artigo do professor Sérgio Marcelo Salvino Bezerra cujo tema me deixou curiosa: “Sou professor. Por que preciso usar as novas tecnologias?” Por que fiquei curiosa? Pelo óbvio: o tema chama a atenção. Pensei: o que será que esse professor vai falar? A minha resposta a pergunta do tema do artigo foi a mesma dada pelo professor no início do seu texto. Então, continuei a leitura. O professor Sérgio Marcelo discorreu sobre o tema fazendo paralelos entre o que se exige do professor para trabalhar com as novas tecnologias e o que realmente é oferecido para que se concretize esse trabalho.
Usar a tecnologia em sala de aula é importante, isso não podemos negar. Ela faz parte do cotidiano dos alunos (alguns, é claro), mas mesmo aqueles que não têm a cesso a ela em casa, podem fazê-lo fora. No entanto, não são oferecidos subsídios para que se realize este trabalho e bem como frisou o professor Sérgio, há uma discrepância entre o que se exige do educador na realização de seu trabalho em sala e o que se cobra do aluno nas provas de vestibulares. Os alunos já estão tão habituados ao uso das novas tecnologias, que no momento que solicitamos que dissertem acerca de algum tema ou que transcrevam algo do quadro para o caderno, as reclamações são inúmeras, os alunos acreditam que escrever faz parte do passado. Para quê escrever se eles podem salvar a aula do professor no seu pendrive ou fotografar o quadro escrito com o seu celular de última geração?
O resultado disso são as notas baixas na prova de redação dos concursos vestibulares. Quero deixar claro que não sou contra o uso das tecnologias em sala de aula. Elas podem ser um auxílio e não se tornar o grande foco na prática pedagógica.
Voltando ao tema deste humilde texto: “Desabafo de uma professora desencantada”, talvez não esteja apenas desencantada, quem sabe o sentimento seja de indignação. A educação é encantadora. Ensinar uma criança a ler, escrever, descobrir o mundo através de um texto, fazer sua leitura de mundo, ajudá-la a descobrir sua capacidade de criticar construtivamente, questionar, habituar-se ao exercício da dúvida, experimentar e tornar-se construtor de um novo mundo. Isso tudo é absolutamente gratificante. Mas nós temos que sobreviver, temos nossas contas para pagar, nossos filhos e companheiros (as) para cuidar, nossa saúde para tratar. No entanto, inúmeros “deseducadores”, lutam para mudar os parâmetros de nossa última conquista: A lei do piso.
Como não ficar indignada com tal situação?
Muitos dizem que a educação é a maneira de mudar o mundo, que sem o professor não haveria outros profissionais. Contudo, a educação é o último foco das políticas públicas, o professor é o profissional menos valorizado e menos respeitado. Os governantes acham que já ganhamos o bastante para transformar um país, porque dizem que é “através da educação que se transforma um país”. Teríamos que ser milagreiros para realizar essa conquista tendo que ter dois ou mais vínculos empregatícios, porque precisamos sobreviver. Talvez fôssemos capazes de realizar essa façanha se nossa remuneração tivesse valor igual a, pelo menos metade da remuneração paga aos deputados, vereadores, senadores.
Enfim, somos nós os culpados pelo não crescimento do país, somos nós os culpados por não preparar profissionais capacitados, somos nós os culpados por estarmos nos últimos lugares no ranking da educação, somos nós os culpados por não contribuir para a formação de cientistas, enfim, “somos nós os culpados”. Por que afirmo isso? Porque, repito, prega-se a importância já comprovada da educação para o desenvolvimento e somos nós, eu acredito, a pedra inicial de tal desenvolvimento, no entanto, se nossos alunos não se destacam no cenário educacional, então, além de outras causas, culpa-se o professor por não dominar as novas tecnologias, por não conseguir preparar boas aulas e blá, blá, blá. Cumpra-se a lei de valorização do profissional da educação e então faremos muito mais do que já fazemos.
Simone Mara da Silva
Professora da rede estadual de ensino de Pernambuco.