Desabafo
Sabe aquele dia em que você acorda sabendo quem é, mas anoitece perdido? É exatamente assim que me sinto. Não sei mais o que fiz da vida até aqui, perdi a noção de mim mesma, perdi minha identidade… Não acredito mais nas coisas e nem nas pessoas como antes. Já imaginou você viver em função de um ideal e de uma verdade e de um momento para outro descobrir que nada valeu a pena? Está acontecendo comigo.
Dediquei minha vida inteira a uma causa, deixei de viver a minha vida por inteiro, perdi a infância dos meus filhos cuidando dos filhos alheios, engordando as estatísticas do Governo desde 1993, quando fui aprovada em concurso pela Secretaria Estadual de Educação. Foi uma estrada sofrida até aqui. Mas ao mesmo tempo gratificante por saber que “o povo”, pelo menos o povo reconhece o meu empenho e sempre aprovou o meu trabalho. Não sou professora por acaso ou por falta de opção profissional.
Nunca neguei a minha paixão pela profissão docente e, mesmo diante de todos os obstáculos, ainda acredito que esta é a única maneira de formar uma sociedade mais digna e capaz de transformar o mundo. A Constituição do Brasil estabelece que a educação é direito de todos os cidadãos e dever do Estado. O professor é peça fundamental para cumprir essa determinação. Assim sendo, esta classe deveria ser mais valorizada ou pelo menos respeitada, mas infelizmente é muito revoltante saber que tanto o professor como a educação brasileira ainda está em segundo plano.
Contudo, não é a profissão professor que é humilhante, é quem “pensa” a educação e que tem o poder da caneta, de impor políticas públicas que relega a essa profissão à humilhação. Se a profissão professor fosse pensada, planejada e estruturada por professores, e não “burrocratas”, dificilmente seria esta visão que a sociedade teria de quem leciona. Uma boa resposta para quem leciona hoje sobre se é ou não vergonhoso ser professor poderia ser: “Não tenho vergonha de ser professor, tenho vergonha das condições sobre as quais sou submetido por planos e mais planos que prioriza números e não pessoas”. É como diz o chavão Lula: Nunca na história desse país se deu tão pouca atenção à educação.
Esta voz que vos fala não é de apenas uma professora, mas de um grupo indignado pelo descaso e exclusão diante de um “programa” que seleciona à seu modo aqueles que lhe convém e descarta os demais como se fossem coisas imprestáveis. Assim é a educação que em seus belos discursos condena a desigualdade e a exclusão.. É o tal “PROGRAMA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL”. que não estou aqui me achando no direito de condená-lo, pois realmente é bom, mas contradiz o que deveria ser uma EDUCAÇÃO PARA TODOS como a mídia faz questão de lembrar todos os dias. Precisamos de uma política educacional que realmente seja inclusiva e igualitária e não de um programa que chega dividindo professores e alunos dentro de uma mesma escola. FICA A DICA.
Professora Maria Socorro Alencar (Escola Presidente Médici-Moreilândia-Pe).