Do Brasil popular,
Escrevo esse artigo justamente no dia em que comemoramos os 41 anos de vida da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Fundada no dia 28 de agosto de 1983, a CUT hoje não é somente a maior central sindical do Brasil, com quase 4 mil sindicatos brasileiros a ela filiados e 24 milhões de trabalhadores e de trabalhadoras representados/as por ela em sua base de atuação. A CUT é a maior central sindical da América Latina e também a 5ª maior do mundo. Nasceu para representar e dirigir sindicalmente a classe trabalhadora brasileira em um momento do país em que, saindo de um longo período de regime militar e ditatorial que matou e perseguiu tanta gente, a sociedade exigia democracia e mais participação.
Era a época da Campanha das Diretas Já. Naquele momento histórico do Brasil, as pessoas clamavam pelo direito sagrado ao voto, depois de mais de 20 anos sem eleições diretas para Presidente da República. As manifestações por direitos pipocavam em todo canto do país, reivindicando melhores salários para dar conta da hiperinflação que achatava nossos salários e atacava o poder de compra dos mais pobres. Os/as trabalhadores/as da educação, assim como todos os outros de outros tantos segmentos mais organizados do país, mesmo quando não podiam pela lei se organizar sindicalmente e sequer exercer a sua liberdade de expressão (era o tempo do cala a boca), estavam mobilizados/as nessa luta mais geral por democracia e pelo fim da ditadura militar.
É nesse contexto que a CUT nasce. E surge já fazendo muito barulho, se anunciando como o “novo sindicalismo”. Naquele tempo, os sindicatos eram dominados pelos patrões e, no setor público, sequer era possível a sindicalização. Então, com a mobilização de amplos setores da sociedade brasileira, a CUT aparece no cenário se propondo a representar os/as trabalhadores/as de uma forma geral e horizontal, e não somente pela categoria profissional dele. Era um espaço novo em que, de forma contundente, professores/as, bancários/as, metalúrgicos/as, comerciários/as, servidores/as públicos e um monte de outros/as tantos profissionais podiam sentar juntos e discutir os temas que afetavam a todos/as, e não somente aqueles específicos de sua corporação. Essa foi a grande novidade que a CUT trouxe para a organização da classe trabalhadora brasileira.
Além de desde o começo defender o fim do imposto sindical (que faziam os sindicatos serem amigos dos patrões), já no seu segundo Congresso, em 1986, era formulada a sua principal tese de organização sindical: a organização por ramos de atividade econômica. O que era isso? Antes, desde os tempos do Presidente Getúlio Vargas, os/as trabalhadores/as se organizavam pelas suas categorias profissionais. Em uma mesma empresa, com o mesmo patrão, os/as trabalhadores/as eram divididos/as: as secretárias, os contadores, os metalúrgicos e tantos outros deviam ter os seus próprios sindicatos e suas próprias pautas, mesmo tendo o mesmo patrão e trabalhando na mesma empresa. A novidade trazida pela CUT, que impactou, por exemplo, também na organização dos/as trabalhadores/as da educação, foi a organização sindical por ramo de atividade econômica, em contraposição às categorias profissionais que nos isolavam: agora todos/as poderiam se sentir parte de uma só classe trabalhadora e, juntos, reivindicarem por direitos que a todos/as interessavam.
A orientação, desde então, foi a de construir, nacional e verticalmente, entidades sindicais fortes, por ramo de atividade econômica, além dos sindicatos de base. Assim foi-se consolidando os ramos que temos hoje na CUT: Administração Pública, Alimentação, Comércio, Comunicação, Financeiro, Metalúrgico, Químico, Transportes, Rural, e etc… Um desse é o ramo da Educação, que hoje, junto com o Rural, é um dos maiores setores organizados dentro da central. E nós, da CNTE, somos também resultado disso.
Os/as trabalhadores/as em educação do Brasil se filiam à CUT em 1988, ainda quando éramos Confederação dos Professores do Brasil (CPB). Imbuídos dessa orientação de nova organização política e sindical que a CUT trouxe e propunha ao país, os/as educadores/as brasileiros/as transformam a CPB em CNTE (trabalhadores/as em educação), unindo professores/as, especialistas e funcionários/as da educação. Essa, que sempre foi uma luta histórica nossa, se concretiza no mesmo esteio proposto pela CUT: todos/as que trabalhamos no espaço escolar somos educadores/as.
Nesses 41 anos dessa bonita história, essa é somente uma pequena parte da enorme contribuição que a CUT deu e nos dá todos os dias, como trabalhadores/as em educação, à nossa luta por direitos e dignidade. Em nome de todos/as os/as profissionais do ramo da educação pública brasileira, quero saudar o aniversário de nossa central sindical, que tanto nos orgulha por sempre ter feito o bom combate e, até nos dias de hoje, defender as grandes ideias e apoiar as manifestações que o país precisa. As bandeiras da sustentação financeira autônoma da nossa estrutura sindical e da autonomia frente a governos, partidos, patrões, credos e instituições religiosas são princípios que nos fizeram fortes no passado e nos fazem independente nos dias de hoje, podendo termos a certeza de que o futuro será ainda mais próspero.
Os desafios para o futuro são imensos: em uma sociedade que ainda tem tanta informalidade na contratação de sua mão de obra, além de uma precarização que se apresenta cada vez mais forte no formato do trabalho “uberizado”, que são aqueles mediados pelas plataformas digitais, os desafios de organização sindical para conquista e manutenção de direitos são enormes. Estamos claramente em uma fronteira que nos impõe novidades absolutamente sensíveis ao mundo do trabalho, em especial nesse momento do advento da Inteligência Artificial, que promete suprimir milhões de empregos, afetando trabalhadores/as das mais diversas atividades econômicas. Devemos estar preparados/as para enfrentar esse novo mundo que se anuncia para, assim, proteger nossos empregos e garantir mais direitos à classe trabalhadora.
Vida longa à Central Única dos Trabalhadores e das Trabalhadoras! Que possa continuar a servir e a ser instrumento de mais e mais conquistas de nossa classe! Juntos somos fortes, juntos somos CUT!
(*) Heleno Araújo é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE e professor das redes públicas de educação básica do Estado de Pernambuco e do Município de Paulista – PE.