Estado – O que o Japão pode ensinar ao Brasil sobre educação?
Yoshida – Vocês podem aprender conosco, mas precisam saber que o contexto e a motivação para o desenvolvimento do nosso sistemas educacionais são diferentes, em termos históricos, sociais e culturais.
No Japão, o governo pensou que era importante educar a população como um marco da fundação de um Estado nacional.
No início do século passado, universalizamos o acesso à educação básica. Olhando da perspectiva das pessoas, elas querem estudar para melhorar a qualidade de vida.
Do lado do desenvolvimento industrial, os empresários esperam que a educação forme recursos humanos para o trabalho. Então tudo depende do que vocês querem da educação. Conseguimos universalizar o acesso ao ensino fundamental só nos anos 1990. E agora, quais desafios temos pela frente?
Universalizar o acesso é apenas um aspecto do desenvolvimento educacional. Não adianta todo mundo ir para a escola se você não avalia o quanto as crianças aprendem. A questão demanda políticas públicas adequadas ao contexto brasileiro da desigualdade social. É preciso, por exemplo, compensar os pais pelo custo de enviar seus filhos para a escola.
Estado – Qual o papel dos pais na educação dos filhos?
Yoshida – Fundamental. Além de matricular as crianças, o mais importante é encorajá-las a estudar e não forçá-las.
Estado – De que maneira?
Yoshida – Saia de casa e exponha seu filho aos mistérios da natureza. Ou sente-se com a criança e leia livros interessantes. Depois, faça algumas questões, pergunte o que ele acha.
Estado -Por que os asiáticos são tão bons em matemática?
Yoshida – Nós queríamos dominar essa habilidade, necessária no dia a dia. Tivemos uma condição histórica que permitiu a todo mundo ter acesso à educação básica. Não surpreende que as pessoas quisessem aprofundar o aprendizado. E o Japão desenvolveu um sistema avançado de ensino de matemática. E se adaptou aos modelos ocidentais.
Estado – A China teve o melhor desempenho no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2009. Qual o segredo?
Yoshida – Cada país tem um propósito ao participar do Pisa. Isso depende de suas políticas públicas. Provavelmente a China gostaria de se impor um alto nível de exigência. Muitas nações desenvolvidas usam o exame para avaliar seus sistemas educacionais e compará-los com os de outros países.
Mas o Pisa analisa outras coisas, como a qualidade do ensino e como os pais cuidam da educação dos filhos. Isso deve ser levado em consideração ao se interpretar os resultados. No caso da China, talvez eles quisessem se mostrar capazes ao resto do mundo.
Sabemos que é um país muito diverso, em termos de população, de distribuição de renda, de participação política. E igualdade é um problema crucial para eles. O Brasil também sabe as dificuldades que enfrenta. Não acho que vocês devam sentir que a China está muito mais avançada que vocês.
Estado – Vários rankings comparam universidades. Em alguns, nossa instituição mais prestigiada, a USP, nem aparece entre as top 100. Como melhorar o ensino superior?
Yoshida – Vocês precisam saber avaliar a real capacidade de suas instituições e a importância de aparecer numa tabela com outras universidades. Os critérios dos rankings são úteis para suas universidades? Se forem, vocês precisam descobrir em que aspectos estão realmente atrás.
Fonte: Carlos Lordelo/ O Estado de S. Paulo