Sindicato dos Trabalhadores e das trabalhadoras em Educação de Pernambuco

A formação docente


A formação docente
Temos o costume de estruturar nossos textos da seguinte forma: primeiro definindo algumas coisas do conteúdo em foco, para logo em seguida fazer uma breve reflexão, passando de imediato a um fechamento, nos aventurando quando muito, a estabelecermos uma conclusão ou o que nos parece mais sensato, deixar um espaço para que cada pessoa possa tirar as próprias ideias. Dessa vez vou apresentar tabelas e gráficos para vocês interpretarem, e em seguida relatar como sempre, de forma sintética o que vem à mente, quando observamos dados como estes.
Boa leitura e Boas ideias.
No gráfico abaixo observamos o comportamento das matrículas da Educação Superior de graduação:

Fonte: MEC/Inep
Somente depois de analisarem o gráfico e tirar suas conclusões, prossigam com a leitura.

Uma inserção nos números expostos acima nos revela que os cursos de bacharelado têm uma abrangência de aproximadamente 67,5% na matrícula, ao passo que os cursos de licenciatura têm 18,8% dessa matrícula, enquanto que os cursos tecnológicos contribuem com 13,7% na matrícula.

Num primeiro olhar, talvez não revele o crescimento ocorrido com o bacharelado ao longo da série dos onze anos apresentado acima, mas se observarmos o crescimento também dos cursos de tecnologia, chegaremos a uma constatação que, enquanto esses crescem de forma acentuada, os cursos de licenciatura estão praticamente estagnados, revelando uma procura muito abaixo do desejado, mostrando a pouca atratividade que a licenciatura provoca no jovem. Quer pela irrisória remuneração oferecida, quer pelas condições de trabalho ou mesmo pelo desenvolvimento na carreira.

Tudo isso é confirmado de forma muito significativa nos percentuais apresentados pelo MEC no período de 2012-2013, ou seja, enquanto as matrículas dos cursos de bacharelado cresceram 4,4% e os de tecnologia 5,4% os de licenciatura tiveram o crescimento pífio de 0,6%. Esses percentuais vistos de outra forma atestam que a procura pelos cursos de bacharelado são sete vezes maior que os cursos de licenciatura e os de tecnologia atingem a marca de nove vezes mais procuras que as licenciaturas.

Abaixo aglomeramos duas tabelas e um gráfico para analisar a situação docente no país.

Na tabela menor que trata do número de ingressantes nos cursos de licenciatura, notamos que o percentual de variação de ingressantes nos cursos entre os anos de 2009 e 2013 foram de 14% para o ensino a distancia, 20% no ensino presencial, totalizando 18% de aumento de ingressantes nas licenciaturas o que poderia induzir no primeiro momento a erros de interpretação, levando a conclusão de uma situação de conforto para as licenciaturas, mas não é bem assim.

Já a tabela maior, com os números de concluintes desses cursos no mesmo período de 2009 e 2013 é preocupante, bastando exemplificar com o ano de 2013, onde esse universo foi de apenas 201.353 concluintes nos cursos de licenciatura, valor 17% inferior ao registrado em 2009. O que deixa evidente um processo de evasão bastante danoso no ensino das licenciaturas no país. De uma forma geral, os cursos de formação de Professores têm evasão maior que 30%, acima da média registrada por outras graduações. Saldaña (2014).

A tabela com os números de concluintes apresenta também as diferenças entre o ensino presencial público, com a defasagem de 8% nas conclusões e do ensino presencial privado com uma defasagem de conclusão de 19%, além da defasagem no ensino a distância tanto na escola pública com um percentual de 11%, quanto na escola privada, que chegou ao patamar de 35%.

Para Kuzuyabu (2014), esse encolhimento é puxado pelas instituições particulares, que em cinco anos deixaram de formar 35.709 alunos. Qual a lógica que impõe ao estudante pagar uma escola privada com endividamento sempre progressivo, se no final do curso o salário não é compensador e as condições de trabalho são precárias?

Segundo Pinto (2011), essa evasão de forma disseminada ocorre pela desvalorização da carreira docente, além da saturação do mercado. É o que ele apresenta no gráfico acima, onde faz uma comparação entre a demanda estimada de Professores e Concluintes (1990-2010) por componente curricular. Diz o professor em seu estudo, que o número de formandos em licenciatura é maior que a demanda em todas as disciplinas, com exceção de física, ciências e língua estrangeira onde as duas últimas são frutos de uma diferença na contabilização das informações. Apesar desse estudo, observam-se escolas sem professores no país, faltando, portanto, profissionais interessados em seguir carreira. Para Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, “a pesquisa desconstrói um falso consenso sobre um apagão” “Os dados reforçam que a principal agenda na questão docente e a Valorização”.

Como tornar a profissão mais atrativa? Tanto o Plano Nacional de Educação como o a última CONAE que referenda esse plano, lançam luzes sobre a necessidade da criação dos planos Estaduais Distritais e Municipais, pela valorização dos profissionais com salários compatíveis com outras profissões, entendendo assim, a luta pelo Piso Salarial, (o salário de um Professor é, em média, 40% menor que o de um profissional de formação superior); formação inicial e continuada, que significa carreira que deve estar contemplada nos PCC; a regulamentação do Sistema Nacional de Educação – SNE como lembrou a CNTE, além do destaque para o padrão de qualidade da educação (CAQ), com maleabilidade institucional para ajustes nos valores per capita desse mecanismo de financiamento; as diretrizes nacionais para as carreiras dos profissionais da educação. Tudo isso se constitui elementos fundamentais para a Educação Nacional com reflexos impactantes na Formação Docente.

Referencias:

?Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, (CNTE). http://www.cnte.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14140:cntenaconae
?KUZUYABU, Marina. Há cada vez menos concluintes nos cursos de licenciatura, Revista Educação. Educação em números/edição 21, nov/2014.
?Ministério de Educação e Cultura (MEC) /Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Censo da Educação Superior 2013.
?PINTO, José Marcelino de Rezende. Comparação entre a demanda estimada de Professores e Concluintes (1990-2010) por componente curricular. USP, 2011.
?Saldaña, Paulo. O Estado de S. Paulo, em 31 de agosto de 2014.
Edeildo de Araujo
Diretor da Secretaria do Interior do SINTEPE e Formador da CUTPE.

Compartilhar

Deixe um comentário