A CARTILHA DO RETROCESSO
Escrever qualquer coisa sobre a conjuntura que estamos vivendo no Brasil é sempre um risco iminente de repetir o que já foi explicitado por alguém em algum momento, embora não devamos nos eximir de fazer uma reflexão a respeito do jogo de interesse que permeia as falas que estão por trás de cada personagem que surge nesse palco da política brasileira.
O que está subentendido na palavra de origem Inglesa, mas escrita ou pronunciada nas nossas terras nos últimos meses, ou seja, “Impeachment”, podendo ser traduzida por “acusação” ou “impedimento”? O que cada um ou cada uma que como papagaio repetiu exaustivamente essa palavra queria realmente expressar? Uma simples mudança presidencial? Ou trazia uma intencionalidade de barrar o projeto de sociedade que estava sendo colocado em prática?
Buscando entender o ocorrido, vale resaltar o grau das trocas de farpas durante as eleições para presidente em 2014, principalmente no segundo turno, ganhando asas logo após os resultados, com agressões à candidata eleita, tanto nos meios de comunicações como também na internet. É importante chamar a atenção que quando se aceita essa situação é fundamental uma avaliação do que se tem a ganhar ou perder e o que realmente está por trás de tal situação? O que se observou nesse embate foi o Governo Federal na maior parte do tempo nas cordas, sendo acuado por acusações das mais diversas possíveis. A famosa crise financeira presente no mundo inteiro atingiu entre nós um patamar mais extenso com a crise política que já se instalava, tornando o quadro mais dramático.
Analisemos a pergunta que parte dos correligionários repetidamente fizeram: qual foi o erro do Partido dos Trabalhadores? Primeiro: foi entrar em um jogo com um jogador profissional aqui representado por todas as forças contrárias a esse governo. Segundo: desconhecer que o baralho do jogo estava com as cartas marcadas. Nesse momento você deve estar se perguntando: quais são essas cartas marcadas?
Em uma breve descrição vamos começar com o Ministério Público Federal que investigou bastante, mas de prático esclareceu muito pouco e até hoje se pode questionar a quem levou punição? Em seguida a Polícia Federal que nunca teve tanta liberdade para dar suporte às investigações, embora optando por fazer prisões e gravações espetaculares com acompanhamento sempre constante da imprensa para fazer um sensacionalismo que se tornou bastante prejudicial para aqueles a quem se quer colocar na berlinda.
Os partidos políticos que não vou comentar por ser desnecessário, juntando-se a isso, o tal Juiz de primeira instância que desde o inicio permitiu vazamentos seletivos, gravações e suas respectivas divulgações de forma bombásticas, convocação coercitiva de um ex-presidente sem nenhuma necessidade, com um verdadeiro pelotão de choque, atos sem dúvida, cinematográficos. O STF que se no dizer das gravações ficou acovardado, e que ainda não disse claramente a que veio, e por fim, a mídia que exaustivamente repetiu cem vezes as mentiras convenientes até que se transformassem em verdades na cabeça dos inocentes úteis, cumprindo o papel que lhe cabe de porta-voz dessa elite que excede de ódio ao restante do povo brasileiro, uma verdadeira cartilha do retrocesso.
Acreditar na perspectiva de conciliação de classes, em nosso país não foi uma grande inocência? Mas onde está a saída? Quem sabe: “na tradição marxista, única, capaz de recuperar a luta de classes e o projeto revolucionário da classe trabalhadora e trazê-lo para o lugar onde Marx sempre o deixou, isto é, como elemento histórico e superador da ordem do capital”.
Edeildo de Araujo
Diretor da Secretaria do Interior do SINTEPE
Formador de Política Sindical da CUT/PE e Coordenador Pedagógico da Escola Nordeste da CUT