Sindicato dos Trabalhadores e das trabalhadoras em Educação de Pernambuco

Escolas sem prevenção por falta de estrutura

Do Jornal do Commercio,
Ciara Carvalho

O cartaz pregado no mural da Escola Estadual João Barbalho, no Centro do Recife, ensina: lavar as mãos é um dos mandamentos básicos na guerra preventiva contra a gripe A(H1N1). Procedimento simples. Basta água, sabão e seguir a orientação dos especialistas. O Jornal do Commercio pediu ao infectologista Vicente Vaz, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), uma aula sobre como fazer o dever de casa corretamente. Os quase dois mil estudantes da Escola João Barbalho, no entanto, terão dificuldade para seguir as dicas do médico, reproduzidas passo a passo nesta página. Por uma razão elementar. Na unidade, não há sabão, detergente, papel higiênico e um dos banheiros sequer tem água porque a torneira está quebrada. A reportagem visitou colégios da Região Metropolitana do Recife e constatou que a ausência de regras mínimas de higiene expõe os alunos ao risco de contágio e inviabiliza qualquer controle da doença.

Uma conversa rápida com estudantes da Escola Municipal Pedro de Alcântara, em Jaboatão dos Guararapes, dá a dimensão do caos. Não existe água potável na unidade. Para beber água, foi colocado um filtro de barro e, ao lado, um pratinho de plástico que, embora descartável, era usado por todos os alunos. O pratinho foi comprado para a merenda, mas, na falta de copo, terminou sendo improvisado para a água. “Eu não tenho coragem de usar. Todo mundo pega e deixa lá para o próximo beber. Fica até marca de batom”, diz o estudante Wedson de Lima, 12 anos. “E o que fazer quando a sede aumenta?”, quis saber a reportagem. “Quem não aguenta bebe. Quem tem nojo espera a aula acabar para tomar água em casa”, responde o colega de sala de Wedson, Iuri Gomes da Silva, 12.

O uso coletivo de recipientes é totalmente condenado pelo Ministério da Saúde. Na última sexta-feira, quando o JC esteve na escola, o filtro havia sido retirado de uso um dia antes. Os alunos encontraram um mosquito dentro do reservatório. Não há água para beber nem banheiro para os estudantes. “Os dois (masculino e feminino) estão interditados. Não entre aí não, senão a senhora vai levar um choque”, alertou uma funcionária, durante a visita à escola, que atende 900 alunos. Na falta de tudo, a saída foi liberar o banheiro dos professores para o uso dos estudantes. “Eu só vou nas últimas. Quando não dá para esperar de jeito nenhum”, entrega o adolescente Iuri Gomes.

A diretora da Escola Liliosa Ramos, também da rede municipal de Jaboatão, admite que não há o que fazer. “Medo de pegar a doença a gente tem. Mas vai se prevenir como? Não tem nem sabão para as crianças lavarem as mãos. Quanto mais o restante”, diz, confirmando que também não há papel higiênico na unidade. E, quando tem, é ela que tem de tirar dinheiro do próprio bolso para comprar. A diretora diz que a única regra de prevenção que a escola consegue seguir é mandar as crianças doentes para casa. “Quem aparece com febre ou gripado eu mando de volta. Fora isso, é apostar na sorte.”

No Centro do Recife, os banheiros da quadra da Escola Estadual Sizenando Silveira, no Complexo IEP, contrariam qualquer regra básica de higiene. O mau cheiro é insuportável, todas as bacias estavam sujas e algumas portas, quebradas. Nada de sabão, detergente ou papel higiênico. Alunos da escola afirmaram que os banheiros do colégio também não possuem nenhum material para limpeza das mãos. Só água na torneira. O diretor da unidade, Elimar Alcoforado, disse que iria colocar saboneteiras, com sabão líquido, nos banheiros, mas a furadeira que seria usada para a instalação do suporte quebrou. Ele não autorizou a entrada da reportagem na unidade. Argumentou que achava melhor deixar para que as fotos fossem tiradas quando as saboneteiras já estivessem instaladas.

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