Um país de acéfalos
Questionado certa vez sobre a forma diferenciada e particular de como os fatos acontecem em nosso país em relação ao resto do mundo, fiquei a analisar algumas idéias e rememorar eventos que deveriam ser significativos para a população e, portanto, para nossa história e como eles “deformaram” o censo crítico do nosso povo.
A começar pelo mal contado “descobrimento do Brasil”, ou como preferem alguns: invasão, pelos Portugueses, Espanhóis, Holandeses etc. E a consequente “colonização” ou exploração dos nativos, verdadeiros donos das terras que aqui habitavam. O seqüestro da raça negra, arrancada bruscamente das suas terras primitivas da Mama África, para iniciar por aqui um ciclo de escravidão que perdura até hoje.
A “Proclamação da Independência do Brasil”, fato estranhamente ocorrido sem grandes lutas ou derramamento de sangue, quase que um acordo entre cavalheiros às margens de um riacho. Evento que as pinturas registraram como muito poético, mas de pouco efeito prático.
A “Abolição da escravatura” firmada pela Princesinha e registrada como atitude de generosidade ou será caridade? Possuía um jeito de amenizar o sofrimento de uma raça já tão explorada ou foi um ato de acomodação e como dizem: “para Inglês ver”?
A “proclamação da República” que aconteceu sem um querer dos seus autores, onde Deodoro, amigo do Imperador, seguia para o ministério da Guerra para depor o Visconde de Ouro Preto; nisso as tropas começam a gritar: viva a república, e no dia seguinte sem luta ou revolta o povo tinha um novo regime que acrescentou…. o que mesmo?
O “golpe militar de 1964” que salvou o país de não se sabe o que, ou de quem, apelidado por alguns iluminados de “revolução” onde se inicia a geração de grandes injustiças no campo dos direitos humanos com consequentes torturas e assassinatos, além de uma dívida financeira de grande repercussão. Mais adiante, temos a “anistia” e atualmente a “comissão da verdade” que pretende apurar os crimes cometidos, mas sem qualquer punição para os envolvidos nas atrocidades. Lixo embaixo do tapete?
Iniciando uma “Democracia”, temos agora o “direito de votar” em nossos representantes, mas se optarmos por não comparecer às votações seremos exemplarmente punidos pela “justiça” ou seus escudeiros e defensores da democracia.
Para sedimentar tudo isso, temos agora informes trazidos pela imprensa, de que os representantes eleitos ou não, para zelar pela coisa pública andam legislando em causa própria criando benefícios que nós, simples mortais desconhecíamos, como o “Auxilio Moradia”. Que insistem em dizer que é legal porque a lei existe. E nós insistimos que é imoral pelo mesmo fato de beneficiar os seus autores e alguns que deveriam velar pelo bem público. Portanto, torna-se também ilegítimo, pois direciona os impostos para os bolsos de poucos, em detrimento do restante da população que não legitima essas ações, precisando ficar indignada e reagir, como se estivéssemos realmente em uma nação com plenos direitos democráticos, ou queremos ser lembrados como um país de acéfalos?
Edeildo de Araujo
Diretor de Formação do SINTEPE e formador da CUT.