A esquizofrenia brasileira
Foi com a mesma perplexidade observada em vários setores dentro do Brasil que o jornal espanhol “El País” tratou os protestos que tomaram as ruas das principais capitais do Brasil. Em parte do artigo publicado em 17/06/2013, pelo jornal o articulista reflete e pergunta ao mesmo tempo sobre os protestos e as razoes destes. Já que o país vive um bom momento econômico e político segundo as análises emitidas pela comunidade Europeia.
Vejamos algumas das indagações feitas no artigo:
“Por enquanto, o que existe é um consenso de que o Brasil, invejado internacionalmente até agora, vive uma espécie de esquizofrenia ou paradoxo que ainda deve ser analisado ou explicado”, afirma o artigo, intitulado “Por que o Brasil e agora?”.
“O Brasil está pior do que há dez anos?”, pergunta o autor, Juan Arias. “Não, está melhor”, responde ele, acrescentando que o país está mais rico, tem menos pobre e testemunha o crescimento do seu número de milionários. “É mais democrático e menos desigual”.
“Por que saem às ruas para protestar contra a alta dos preços dos transportes públicos jovens que normalmente não usam esses meios porque já têm carros, algo impensável há dez anos? Por que protestam estudantes de famílias que até pouco tempo não tinham sonhado em ver seus filhos pisarem na universidade?”
Boa parte dos denominados cientistas políticos e/ou sociólogos do nosso país chamados para explicar as manifestações ocorridas a mais de 30 dias, tomaram como ponto de partida os protestos ocorridos na capital paulistana com o Movimento Passe Livre (MPL), para reduzir o aumento da passagem de R$ 3,20 para R$ 3,00 e que depois proliferou por todo o país. O que levou o governo de Pernambuco a se antecipar e baixar a o preço da passagem em R$ 0,10 com medo que os protestos não manchassem a imagem de seu governo “socialista”.
Para quem acompanha os passos da mídia nacional e local observa que já de algum tempo os jovens, os movimentos sociais e a sociedade como um todo, vêm sendo taxados de acomodados, apolíticos e apáticos com relação aos problemas da sociedade como se nada disso lhes pertencesse. Até alguns vídeos da época do “fora Collor” apareceram na televisão. Coincidência?
Chegando a esse ponto, perguntamos: quem forneceu o combustível que sacudiu essa massa que estava dormindo ou anestesiada? Sem sombra de dúvida ela (a massa) foi lentamente alimentada pela mídia para ter os seus 5 minutos de sucesso e participar da vida política do país com uma alta dose de indignação. O que ficou bastante claro durante o período dos protestos onde no Twitter, 80% dos links mais compartilhados nesses momentos eram de meios de comunicação brasileiros.
No Facebook a média de interações (abordando sobre o tema) com as páginas dos principais jornais, revistas e TVs do Brasil triplicaram conforme foram crescendo dos protestos. E quem é essa mídia nacional? Quantas famílias detém o controle dos meios de comunicação no país? Sete, oito, nove? Qual é a concepção política e de sociedade que essa mídia nos impõe?
Agora pasmem: “em meio a diversos questionamentos sobre a credibilidade das instituições no país, a mídia é a entidade mais confiável para a maior parte dos brasileiros, de acordo com o Estudo de confiança Edelman 2013”. Chegando a atingir a marca de 66% dos brasileiros. Em seguida, estão as empresas (64%), ONGs (59%) e governo (33%).
Reivindicar seus direitos sob várias formas é legitimo em uma democracia, mas é fundamental: saber quem nos alimenta; reconhecer aqueles/as que já estão acordados e na luta há décadas e principalmente não enterrar a longa história em prol da democracia do nosso país.
Edeildo de Araujo.
Diretor de Formação do SINTEPE e Formador da CUT.