Sindicato dos Trabalhadores e das trabalhadoras em Educação de Pernambuco

“Dá para fazer muito mais”

“Dá para fazer muito mais”
Qual a razão do ser humano ter sempre um conselho ou uma opinião com relação às dificuldades ou problemas das outras pessoas?? A sabedoria popular diz que olhar e apontar os defeitos e falhas alheias é muito mais prazeroso do que tentar concertarmos as nossas mazelas. Essa tendência extrapola a questão puramente individual e observamos também em algumas administrações como é o caso do governo de Pernambuco que de uns tempos para cá anda soltando frases de efeito com relação ao governo federal que são, sem dúvida, verdadeiras pérolas na arte de desviar as atenções das suas próprias deficiências. Vejamos algumas delas:
“O Brasil não começou ontem. Não começou com o partido A, B ou C”. Sem dúvida todas as lutas travadas pelos trabalhadores nesse estado e no país é a resultante do empenho da classe trabalhadora em busca da sua melhoria e pela valorização da força de trabalho como bem exemplifica a questão do Piso Salarial Profissional Nacional dos Professores que remonta à época do Império, e contemplado mais recentemente na Constituição Federal de 1988 no seu artigo 206, que se tornou realidade em formato de lei somente em 2008, graças à mobilização dos professores.
Esse mesmo Piso após a sua aprovação vem sofrendo constantes ataques dos “partidos” rotulados de esquerda e/ou socialista e quando a luta ganha as ruas com paralisações o que vemos são formas arbitrárias e antidemocráticas praticadas contra os Trabalhadores em Educação como a que ocorreu com os descontos salariais efetuados pelo governo de Pernambuco na paralisação Nacional da Categoria ocorrida em abril deste ano.
Atitudes como essa Caracteriza uma retaliação no direito desses trabalhadores de buscarem mudanças significativas que venham qualificar a sua atuação no cenário educativo estadual. Visões distorcidas como a apresentada acima é que colocam Pernambuco com o pior salário pago nacionalmente aos Professores, o que nos leva a concluir que realmente o Brasil não começou com o partido A B ou C, mas que pela ansiedade de reprimir os trabalhadores que exercem uma disposição constitucional de greve, pode terminar com o partido rotulado de socialista.
“Quanto mais popularidade o governo tiver, mais paciência e diálogo deve ter”. Essa máxima sendo originaria do governo estadual pode ser traduzida ou representada pela virtude do esperto, ou seja: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Tanto a paciência como o diálogo, ao longo desses seis anos e meio de gestão, são atributos que passam longe do governo constituído. Tomemos como exemplo o ocorrido nos primeiros meses do mandato inicial dessa administração quando o SINTEPE encaminhou à Secretaria de Educação um documento detalhado sobre as condições da rede educacional do estado, suas necessidades, principais problemas e se dispondo a dialogar sobre possíveis encaminhamentos. Até agora estamos esperando um posicionamento do governo.
Em outro momento o governo que tem muita “paciência e sabe dialogar” provocou com a conivência da Assembleia Legislativa alterações no Plano de Cargos e Carreira dos Trabalhadores em Educação à revelia de uma mesa de negociação implanta e direcionada de forma puramente figurativa, prejudicando de forma danosa a todos e principalmente aos trabalhadores mais antigos na rede. E continua, principalmente nos momentos que tivemos que, seguindo os processos legais de uma greve, ver o governo convocar o judiciário para decretar a greve como ilegal.
“O estado que está aí, as políticas, as normas como são feitas, precisam evoluir”. Esse estado caduco que reprime qualquer manifestação até de estudantes usando a polícia militar como foi o caso ocorrido na escola Eren Martins Júnior, na Torre, onde alunos protestavam nas ruas do bairro contra a retirada do diretor e foram tratados duramente pela polícia com spray de pimenta tendo outros saindo com hematomas nas costas, refletindo as “normas” que são ditadas para os órgãos de repressão. Passar da truculência para o dialogo, principalmente com a juventude, mostra a necessidade urgente da “evolução dessas normas”.
“O governo, às vezes não dialoga, a solução é falar com o governo pela imprensa”. A frase é outra joia quando dita pelo governo estadual se referindo ao Governo Federal, mas que reflete muito bem a indignação de alunos, pais e trabalhadores em educação que não encontram com quem dialogar e precisam recorrer às cartas à redação dos principais jornais, das rádios e da televisão para verem atendidas as suas reivindicações e que são obrigações do estado em atendê-las.
Vejamos agora a avaliação completamente equivocada do governo estadual quando opina sobre as grandes massas, a classe média e diz que a situação do país vai bem. Tudo isso é claro antes das manifestações das ruas: “Não há grande incomodo nas grandes massas. Não há na classe média esse sentimento, nem de forma generalizada no empresariado”. Quem erra de forma tão contundente ao analisar a sociedade, sem sombra de dúvida, não vai conseguir visualizar as necessidades, limites e onde atuar no quesito Educação que está sob sua responsabilidade. Não é por acaso, portanto que o estado vem amargando índices educacionais tão fracos nos últimos anos.
“Dá para fazer muito mais”. Todos aqueles que militam na educação ou que conhecem a realidade econômica do estado de Pernambuco têm absoluta certeza que: “dá para fazer muito mais”. Quando comparamos os valores do Produto Interno Bruto do estado de 2,5% de participação do PIB Nacional e o de Amapá ou Roraima que são de 0,2% do PIB do país, portanto o nosso produto interno é 12,5 vezes maior que esses dois estados. E o que é aberrante nessa situação? É que estamos no mesmo patamar dos estados citados, ou seja, em Pernambuco de cada 100 alunos do ensino médio apenas 20 aprenderam o suficiente em Português e pasmem, ficou apenas com 07 alunos em cada 100, com aproveitamento expressivo em Matemática. Além de não alcançar o índice desejado de percentual de crianças e adolescentes matriculados na escola e também de conclusão tanto no ensino fundamental como no ensino médio na idade recomendada, segundo a ONG Todos pela Educação.
O estado continua produzindo riquezas, tanto que o governo, através da agência Condepe/Fidem, estima um crescimento de 4,5% para o PIB de Pernambuco em 2013, logo “Dá para ser melhor”. Esses números, claro não estão sendo levados para a mesa de negociação com os servidores públicos, e a educação não aparece como prioridade em momento algum. Será que temos dois estados dentro de Pernambuco? Ou o governo está confundindo crescimento econômico com desenvolvimento econômico?
“Fazer crítica não é ser contra, não é ser inimigo”. Muito bom que o governo pense de forma tão desprendida e objetiva, basta apenas aplicar esse pensar dentro do próprio estado nas relações com os servidores públicos criando de forma efetiva um dialogo verdadeiro.
Edeildo de Araujo
Secretário de Formação do SINTEPE e Formador da CUT.

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