A mudança de estrutura da sociedade é tese central para entender o nosso contexto, alerta Márcio Pochmann
Depois de uma abertura plural e alegre, o Sintepe deu início hoje (12) às discussões das teses que construirão o plano de lutas do Sindicato para os próximos três anos. Após o credenciamento dos/as delegados/as titulares, os trabalhos foram iniciados com a mesa de leitura e aprovação do Regimento Interno. A mesa foi presidida pela Presidência do Sintepe.
Em seguida, o professor Márcio Pochmann, Presidente da Fundação Perseu Abramo e Professor Titular Unicamp, deu início à Conferência de Abertura do 11º Congresso do Sintepe e explanou sobre o tema “Educação, Escola e Democracia”. Utilizando exemplos e recuperando momentos da história brasileira, o professor Márcio Pochmann explicou como há um fosso entre a essência e a aparência no debate da política brasileira. Para o economista, a aparência, muitas vezes, é utilizada para gerar ideias acerca de assuntos e que não encontram espaços na essência, ou seja, na realidade brasileira.
Pochmann explicou que, entre 2010 e 2014, o Brasil viveu uma fase marcada pelo crescimento compartilhado com a inclusão social, e, a partir de 2015 até este ano, o País tem convivido com o decrescimento econômico e cada vez a exclusão ganha mais espaço. De acordo com dados trazidos pelo palestrante, os 50% mais pobres perderam 30% da sua renda; metade da população brasileira vive com cerca de R$ 400, o equivalente a R$ 8 por dia; a cada 4 doutores, 1 está desempregado; e 33% dos profissionais com mestrado estão desempregados.
Em contrapartida a esse cenário, o Brasil é uma das 10 nações mais ricas do mundo (essência) e tem uma autossuficiência de bens invejável. Porém, há uma falta de sintonia cognitiva, pois muitos acreditam que o país está quebrado (aparência). Para Pochmann, o que estamos assistindo é a mudança de estrutura da sociedade. Para acelerar essa mudança, a elite está propagando a ideia de que se gasta demais, o pobre gasta demais. Com esse argumento estão retirando os direitos dos trabalhadores. “As reformas representam o desembarque dos pobres no orçamento público. Não há, porém, qualquer tipo de mudança no orçamento de 5% do PIB para financiar os 25% mais ricos no Brasil”, destacou.
Essa mudança de estrutura já foi vivida na década de 30, quando o país deixou de ser agrário e se tornou um país urbano. O mundo do trabalho mudou novamente e os trabalhadores de hoje estão nas ruas, nos shoppings, nos condomínios prestando serviços. “Os trabalhadores de hoje produzem algo que não é palpável. Diferente da sociedade urbana da década de 80, marcadamente industrializada”, alertou. Essa mudança muda o sentimento de identidade do trabalhador que não mais sente pertencente a um grupo. Hoje, o local de trabalho é pulverizado seja nos aplicativos de celular, nas empresas de call center ou de terceirização.
Para o economista, os sindicatos não estão conseguindo mais se conectar com a massa de trabalhadores e quem está suprindo essa relação são as igrejas, sobretudo as neopentecostais. “Essas instituições não incentivam a indignação, a reflexão. Elas buscam a acomodação e se utilizam do discurso da esperança e da fraternidade. As igrejas se transformaram em instituições de pertencimento”, resumiu.
De acordo com Márcio Pochmann, estamos vivendo uma janela de oportunidade e é necessário mudar os nossos métodos de ação, de formação, de formação de novos quadros. É preciso mudar a forma como se comunicar com essa nova classe trabalhadora, que se informa de forma diferente . A estrutura de representação precisa mudar para conseguir abranger a nova natureza do trabalho. A Educação tem um papel fundamental nessa tarefa, nesse jogo que está sendo jogado. “O medo de mudar não pode nos impedir”, finalizou o economista Márcio Pochmann.