Sindicato dos Trabalhadores e das trabalhadoras em Educação de Pernambuco

Educação sem escolas

Educação sem escolas
O retorno às aulas significa para milhões de crianças e adolescentes a expectativa pelo reencontro do ambiente escolar, do convívio com os colegas e professores até o usufruto de um espaço diferente do espaço familiar, muitas vezes conturbado, ou prejudicado pela localização em um bairro carente de infraestrutura.
A escola, neste sentido, é uma oportunidade para a vivência diferenciada proporcionada por condições de ocupação satisfatórias, com equipamentos que favoreçam a prática de atividades físicas e mentais dentro de uma atmosfera positiva voltada para a evolução de cada um e de todos os estudantes. Infelizmente, a realidade brasileira é outra.

A insatisfação dos docentes que ameaçam fazer greve em diversos Estados no reinício do calendário escolar é apenas a ponta do iceberg de uma situação crítica que se agrava com o tempo.

Pesquisa divulgada pelo Ministério da Educação (MEC) este mês lançou nova faceta sobre o grave problema em que se transformou o que era para ser a consensual solução: o sistema educacional, valorizado como prioridade nas nações ricas do planeta e por aquelas que conquistaram um novo status a partir da constatação lógica de que a educação é o princípio de tudo, como a Coreia do Sul.
Os números do Censo Escolar do MEC são estarrecedores. Se por acaso não chocam tanto, é devido ao fato de refletirem uma realidade bem conhecida. Como se não existisse saída para uma velha questão.

De acordo com a pesquisa, nada menos que 70% dos alunos do ensino fundamental e médio matriculados nas redes pública e privada do Brasil frequentam colégios sem laboratórios de ciências.

Trata-se de um contingente de 27 milhões de jovens. Um verdadeiro exército do futuro desprovido do conhecimento prático a respeito de noções elementares de física e química, por exemplo.

Quase 40% não dispõem de bibliotecas nas unidades de ensino, perfazendo um total de 15 milhões de alunos tolhidos do necessário incentivo à leitura. Cerca de 14 milhões não têm a chance de extravasar a energia em quadras esportivas durante o período em que estão na escola.

E os que não contam com laboratórios de informática (ou seja, de computadores com ou sem ligação à internet) somam 9,5 milhões, ou 24% dos matriculados.
Vê-se como estamos distantes do ideal referido pelo professor José Luís Simões, em artigo publicado na página de Opinião deste JC no último dia 8: “Não basta colocar nossas crianças nas escolas, é preciso colocar boas escolas à disposição das crianças”.

Como imaginar uma educação de qualidade sem o mínimo essencial de oferta material nas instituições de ensino? O quadro se torna dramático quando lembramos que parte da rede pública encontra-se permanentemente à espera de reformas ainda mais básicas, para que os estudantes disponham de salas de aula dignas desse nome.

Como recordou em nota recente a nossa colunista Claudia Parente, unidades como a Escola Miriam Seixas, em Jaboatão, ostentam prédios caindo aos pedaços e aguardam o cumprimento de antigas promessas de reestruturação.

O levantamento do MEC não surpreende em um cenário em que predominam o improviso e o descaso com os estudos iniciais do cidadão.
Cenário vergonhoso, na opinião do coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Isaac Roitman, que criticou, à luz da vexatória estatística, a baixa prioridade que as escolas possuem para quem pensa o futuro do Brasil.

Outro que se pronunciou foi o membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), Mozart Neves Ramos, ex-reitor da UFPE. O CNE espera há quase um ano o pronunciamento do MEC a respeito do estabelecimento de padrões de qualidade na rede pública, o que demandará obviamente mais investimentos.

Segundo Mozart Neves, não dá mais para oferecer aos brasileiros “escola de qualquer jeito”, sem definir quais equipamentos e que condições deve ter cada unidade.

A educação de qualquer jeito ministrada em escolas inadequadas é sinônimo de educação de má qualidade, que malogra a esperança em um País melhor e nos faz marcar passo no caminho do pleno desenvolvimento.

Editorial do Jornal do Commercio, 22 de fevereiro de 2011.

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