O Sintepe aderiu a campanha de conscientização sobre a saúde dos/as trabalhadores/as da Educação, principalmente neste período de pós-pandemia, onde os profissionais ainda estão muito fragilizados e precisaram ser psicólogos dos alunos para ajudar a passar por esse momento difícil de ensino remoto.
A Secretária de Assuntos Educacionais, Marília Cibelli, explicou as ações que o Sintepe promove para ajudar os trabalhadores em educação que precisam de ajuda psicológica neste momento pós-pandemia e a importância da pesquisa para o mapeamento das causas do período remoto e do pós-remoto. “Estamos vivenciando com essa alterações dos papéis, pois muitas vezes fomos professores, mas também precisamos ser psicólogos e cuidar da nossa saúde que estava muito difícil neste processo, pois não tínhamos horários de trabalho e foram criados grupos de WhatsApp para atender esses alunos”.
Cibelli também explicou que os professores precisavam utilizar seus próprios aparelhos tecnológicos e internet para realizar seus trabalhos. Em mais uma ação do Sintepe, o Governo do Estado implantou o Vale Conectividade para os profissionais de Educação, além da conquista dos notebooks, pois alguns professores precisam destes aparelhos.
“Nós entendemos que mesmo com algumas conquistas, isso ainda foi muito pouco diante do quadro que foi trazido junto com a pandemia, porque essa confusão dos papéis, essa confusão dos horários e a cobrança excessiva, porque o professor não precisava só preparar a sua aula, ele precisa preparar o material para aula e deixá-lo o mais atrativo possível para o aluno, além da cobrança da presença do aluno. O Sintepe foi chamado para intermediar muitas situações”, explicou Marília.
Com base na pesquisa, o Coletivo de Saúde da CNTE lançou uma campanha nas redes sociais como forma de alerta e combate aos causadores dos danos físicos, psicológicos e sociais que acometem os/as trabalhadores/as.
A psicóloga Luciane Kozicz, que trabalha na área de saúde do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), apresentou este e outros resultados do estudo que teve como objetivo central conhecer os impactos do trabalho remoto na saúde emocional nos/as trabalhadores/as da educação.
>> Confira o relatório completo do resultado da pesquisa AQUI.
Problemas nas cordas vocais, distúrbios osteomusculares, lesão por esforço repetitivo e doenças do aparelho respiratório foram os danos físicos mais notificados. Nos danos psicológicos, destacam-se o estresse crônico, ansiedade, depressão e síndrome de Burnout. Os danos sociais que se sobressaíram relacionam-se a sobrecarga, hiperatividade, solidão por ausência do coletivo e assédio moral.
Para Luciane, medicar é um fracasso para educar, pois reforça o pensamento mágico. “Receitas visam corrigir problemas, adequando os sujeitos”, alerta. “Ao invés de diagnóstico e medicações para melhorar o desempenho e anestesiar a alma, precisamos repensar o ambiente”, completa.
O relatório do estudo constatou que as instituições transferiram ao trabalhador novas responsabilidades: cada profissional deve exercer o seu talento particular, com esforço singular, dentro da sua casa, em tempo estendido. “Mais uma forma perversa que ataca o trabalho, inovando as formas de exploração e impondo ideologias dessubjetivantes.”
Os questionários aplicados levaram em consideração preocupações com a Covid-19, conhecimento e segurança em relação à pandemia, condições ambientais, tecnológicas e suporte para realização do trabalho em tempos pandêmicos.
O estudo revelou que as novas formas de trabalhar, impostas pela necessidade de distanciamento social, geraram isolamento e solidão. Essa realidade ganhou um novo elemento com o retorno ao trabalho presencial. Os conflitos se intensificaram por múltiplos fatores. “Esse contexto reforça a tese de que as relações laborais precisam ser pauta prioritária nas escolas”, avalia o relatório.
Segundo a Secretária de Saúde dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação, Francisca Seixas, é preciso destacar a situação dos aposentados. De acordo com ela, o que mais tem adoecido a categoria é a questão do confisco. “Nossos aposentados ganham R$ 3 mil e passaram a contribuir com 14% com a previdência: um verdadeiro confisco! Isso tem adoecido e piorado as condições de vida dos nossos aposentados”, avaliou.
Ela também destacou a situação dos readaptados, que estão nessas condições porque existe uma questão de saúde a ser tratada, que pode ser mental ou física. “Precisamos valorizar esses profissionais; é necessário trabalhar com o tratamento, mas, principalmente, com a prevenção”, concluiu.
De acordo com os resultados apresentados pelo estudo, um conjunto de situações tornou o trabalhador passivo e desorientado, com destaque para: ambiguidade de papéis; informações inadequadas ou confusas sobre como o trabalho deve ser realizado; trabalho excessivo em que o indivíduo tem que estar disponível em múltiplas plataformas/canais (sala de aula virtual, Whatsapp, e-mail, telefone, Zoom/Meet, presencial etc.); falta de capacitação ou suporte para o indivíduo adquirir as habilidades necessárias para executar a tarefa; subutilização de habilidades ou tarefas monótonas repetitivas; estruturas administrativas autoritárias que não incluem trabalhadores na solução de problemas e tomada de decisão; falta de reconhecimento sobre o desempenho do trabalhador; cultura organizacional que não abre espaços para o diálogo e são caracterizadas pela performance, promovendo competição e hostilidade; e eterna insatisfação da gestão em relação ao que é criado, executado ou proposto.
Para além dos processos de escuta, a recomendação final do documento elenca a ocupação dos espaços de fala para além das fronteiras conhecidas, principalmente, com os que estão em desacordo com ideias já apresentadas; rever processos possíveis de execução entre o planejado e o que será executado, acompanhando a implantação; elencar as carências nas organizações do trabalho; estabelecer estruturas mínimas de tecnologia e definir cursos necessários. “O espaço de discussão é necessário para a humanização da categoria e diminuição das patologias. O fato de poder compartilhar suas inseguranças e medos faz com que ansiedades diminuam”, conclui o relatório.