Sindicato dos Trabalhadores e das trabalhadoras em Educação de Pernambuco

Sou professor. Por que estou me sentindo sozinho?

Sou professor. Por que estou me sentindo sozinho?
Mais uma vez a educação é tema de nossa reflexão. Nos últimos dias tenho pensado um pouco sobre como o professor deve se sentir sozinho. Talvez o estimado leitor não concorde, já que em uma escola há coordenadores, diretores, auxiliares de disciplina, psicólogo, psicopedagogo, porteiros, recepcionistas entre tantas outras funções que são comuns ao ambiente escolar.
Mas a questão agora é: esses profissionais citados acima estão mesmo nas escolas? A resposta certamente não é tão difícil. O professor não está apenas só, mas está também esquecido e sem saber qual a direção que deve tomar.
A nossa reflexão é oriunda do caos instalado em nossas escolas. Salário e jornada de trabalho ficam em segundo plano quando o assunto é “problemas enfrentados pelo professor”. O que nos chama a atenção e, de certa forma nos deixa intrigado, é como a solução da maioria dos problemas estaria na escuta verdadeira e comprometida ao profissional da educação. No entanto este não é procurado.
Uma das grandes questões hoje é a chamada indisciplina dentro de sala de aula. Há uma discussão sobre o que é e que não é indisciplina, mas partiremos do princípio que indisciplina é o não cumprimento de regras a falta de respeito aos limites. Em oposição pode-se afirmar, segundo Aurélio (2002), que disciplina é submissão ou respeito a um regulamento.
Neste momento o amigo leitor deve pensar que está diante de mais um enfadonho texto sobre disciplina e/ou indisciplina. Não, este não é o tema central desta nossa conversa, mas apenas o pano de fundo para nossa análise, já que costumeiramente tem se atribuído ao professor a responsabilidade pela indisciplina. Mas será deste profissional tal prerrogativa?
A partir de agora iremos focar na questão inicial expressa no texto. Por que o professor está se sentindo sozinho? A realidade é que estamos em pleno século 21 e a sociedade mudou. Há 20 anos tudo era bastante diferente, mas as universidades que oferecem as licenciaturas em suas diversas áreas, ainda estão formando seus professores como no século 19.
Temo quando escuto de diversos colegas profissionais de escolas públicas e privadas que os professores venerados são aqueles que impõem medo aos alunos; os professores respeitados e elogiados são aqueles que quando da presença de um supervisor em sua sala, seus alunos estão sentados e caladinhos aguardando algum comando; os professores reconhecidos são pessoas sérias, face carrancuda e que se assemelham a generais diante de seus comandados. Isto é no mínimo indecente. É o fim da educação e a falta de visão dos que se dizem conhecedores desta área.
Teorias são boas, pensadores são bem vindos, mas uma dose de bom senso vale a pena ser colocada em prática. O que queremos aqui é um espaço para a reflexão sobre o que estamos vivendo em nossas escolas e o que estamos ouvindo de nossos dirigentes da educação brasileira. Pessoas despreparadas estão ocupando cargos que jamais poderia ser de alguém que nunca entrou em sala de aula como educador. Técnicos que não sabem da realidade brutal e indigna a qual estão submetidos nossos profissionais de educação estão se tornando ícones da educação.
Não quero aqui afirmar que é fácil mudar, mas é preciso ouvir, e ouvir com uma audição bem aguçada, para perceber o grito de desespero de nossos professores. Nunca se viu tantos profissionais de educação frequentando consultórios de psicologia e psiquiatria. O sinal está vermelho, não dá para avançar, mas o professor é exigido a ir além. Isso está lhe custando a saúde. A paz já não envolve mais seus corações. O professor está doente…
É um absurdo cobrar de um professor com 40 ou até 60 estudantes em sala, que estes estejam sentados, calados e só ouvindo o professor. “As aulas precisam de mudança, seja criativo professor”. Que frase desesperadora. Ser criativo é colocar 50 jovens ou crianças quietos durante 5 horas por dia, sentados em cadeiras inadequadas e em salas sem o mínimo de conforto? Certamente não.
Os tempos são outros. O professor precisa cada vez mais estar preparado, estudar e aplicar novas metodologias, utilizar as novas tecnologias. Concordo, mas não pode fazer isso sozinho. É inadmissível exigir do professor que sua sala seja homogênea. O professor é aquele que precisa ensinar a grosso e seu aluno recebe a informação a varejo. Definitivamente estamos diante de um caos.
Não pretendo oferecer uma receita. É fato que sabemos por onde começar, mas simplesmente não somos levados a sério. Ao contrário, ouvimos insultos por lutarmos por um salário digno e uma jornada de trabalho adequada. O que trataremos agora pode não ser unanimidade, mas se você leitor é um professor certamente compreenderá nosso intuito.
Definitivamente não dá mais para se ter uma sala de aula com mais de 15 alunos. Admitamos uma quantidade máxima de 20 alunos. Mesmo assim o professor não dará conta. Não há sala homogênea. O profissional comprometido precisará dar atenção a todos seus estudantes. Para isso ele necessitará de um auxiliar, um estagiário, uma pessoa que esteja habilitada para assumir a função de apoio ao professor. Com 20 alunos poderemos dar uma melhor atenção, com o auxiliar poderemos diagnosticar quais alunos precisam de apoio maior para uma aprendizagem eficaz. Este cenário é dentro de sala. E fora dela?
Fora da sala, mas dentro da escola precisamos de psicopedagogos. Estes tratarão das dificuldades de aprendizagens. Fora da sala, mas dentro da escola precisamos de psicólogos. Estes acompanharão situações ligadas ao comportamento de estudantes, a relação com familiares e com educadores. Fora da sala, mas dentro da escola precisamos de porteiros. Estes estarão atentos ao fluxo de todos que entram e saem da escola. Fora de sala, mas dentro da escola precisamos de vigilantes. Estes ajudarão a preservar o patrimônio da escola. Fora de sala, mas dentro da escola, precisamos de coordenadores de disciplina ou de pátio, como muitos são chamados. Estes serão elo entre o professor e a coordenação para situações diversas em que alunos não querem permanecer nas salas de aula. Fora da sala, mas dentro da escola precisamos de pais comprometidos. Estes acompanharão e auxiliarão na formação de seus filhos.
Pode-se agora questionar: a escola não é assim? SUR-PRE-SA… Não é. Não é e parece que nunca será, pois nada de absurdo foi abordado até agora, mas simplesmente nada é feito. O que queremos é um funcionamento adequado e a presença de profissionais que promovam uma educação eficaz e um ambiente de aprendizagem harmonioso e produtivo.
O professor está só, desamparado, largado, impotente e de mãos atadas. Não é exagero, mas uma denúncia. Denúncia de como é o tratamento e o ambiente de trabalho desse profissional de tão grande importância na sociedade. Quer fora de sala de aula, quer dentro dela, o professor não pode estar sozinho e nem deve se sentir assim.
Há um campo vasto de oportunidades para os diversos profissionais ligados à educação. É preciso contratar, realizar concursos e apoiar aquele profissional que tem se sentido sozinho. Milhares de profissionais se formam a cada ano. O psicopedagogo e o psicólogo precisam urgente e definitivamente compor as equipes escolares. Não dá mais para o professor caminhar isolado. É tempo de reivindicar, é tempo de mostrar a sociedade a real situação da educação. Não podemos nos iludir com números e propagandas de governo que mostram escolas com prédios belíssimos e uma jornada integral para seus alunos com o intuito de apresentar uma educação em ascensão e com excelentes resultados.
Um país sério investe em educação e apresenta resultados palpáveis. Não adianta apenas importar modelos de monitoramento de países bem sucedidos na área de educação sem termos as mínimas condições em nossas escolas. Cabe ao nosso país reformular os cursos de licenciaturas e estimular a sociedade a seguir a carreira docente. As escolas precisam de profissionais comprometidos e com condições dignas de trabalho.
Ao professor cabe a esperança de não mais permanecer sozinho e tirar de seus ombros o peso da sensação de solidão e da impotência no contexto escolar. Enquanto esse momento não chega, ele caminhará sozinho e se sentirá esquecido.
Sou professor… Ainda me sinto sozinho.
Pensem nisso.

Sérgio Marcelo Salvino Bezerra
Gestor Escolar da rede estadual de ensino do Estado de Pernambuco, Professor da rede municipal do Recife, graduado em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco, especialista em Gestão Ambiental (Faculdade Frassinetti do Recife – Fafire) e Psicopedagogia (Universidade Católica de Pernambuco – Unicap/Cepai).

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